top of page

Pequenos Herdeiros de Grandes Histórias

Antes de começar:

Olá! Antes que você continue sua leitura, gostaria de explicar um pouco alguns detalhes sobre este texto. Na verdade, ele foi escrito como um trabalho da matéria de Paleontologia da minha faculdade. Por conta disso, tive que adaptar a minha escrita às exigências do trabalho. Basicamente, isso fez com que o texto ficasse enxuto, o que, como vocês sabem, não é muito da minha natureza.

Mesmo assim, me diverti muito escrevendo este texto, o que fez com que uma faísca de animação para escrever mais neste formato aparecesse na minha cabeça. Por conta disso, resolvi postá-lo aqui sem nenhuma alteração para experimentar e, principalmente, ouvir feedback a respeito deste formato. Deveria continuar? É poético demais? Científico de menos? Perfeito? Enfim, por favor não hesite em opinar, aqui ou no instagram, sobre o que achou.

Além disso, por conta da necessidade de encurtar o texto, não tive muitas oportunidades de explorar suas figuras. Mas, tendo em vista que são riquíssimas, decidi colocá-las em uma seção "Figuras", onde falarei a respeito usando as legendas.

Enfim, sem mais enrolação, vamos ao texto".

Espero que gostem. ;)



Pequenos Herdeiros de Grandes Histórias


Os chamados Quetognatos são um grupo de animais principalmente marinhos que, na maior parte das ocasiões, passa despercebido. Mas isso é de se esperar, tendo em vista que, apesar de predadores ferozes, esses animais são basicamente plânctons nadadores. Vivem na coluna d’água em seu micromundo, onde se alimentam de outras pequenas criaturas que também passeiam por ali.

Mas a pequenez desses animais não pode nos distrair de sua grandiosa história. Em tempos passados, quando sobreviver ainda era uma aventura experimental, essas criaturas reinavam os mares onde viviam. Em o que foi considerada uma verdadeira explosão, a vida se diversificou. Durante a transição do Edicariano para o Cambriano, organismos passaram a se aventurar mais entre as possibilidades de ambientes, encontrando papeis ecológicos inéditos e rapidamente a eles se adaptando. Alguns procuraram refúgio sob a areia e cascalho, já outros, aprendiam a nadar rapidamente em busca do que comer.

Aproveitando-se do seu corpo alongado e simétrico e de suas protonadadeiras laterais e caudais, os quetognatos também resolveram nadar. Mas, ao invés de nadar em fuga, nadavam em perseguição.  Com suas antenas atentas, aparelhos bucais poderosos e nado majestoso, esses animais viraram os tiranos do mar.

Em estudo recente, mais um desses imperadores extintos foi descoberto e nomeado. Timorebestia koprii. Onde hoje é o norte da Groenlândia, cerca de 5 a 7 metros abaixo da superfície, os sarcófagos fossilizados de alguns representantes da espécie foram descobertos. O maior deles chegando a 20,6 centímetros de comprimento sem as antenas. Quando essas são consideradas, o animal bate os 30 centímetros. Apesar do tamanho não impressionar tanto atualmente, em sua época e espaço, esses animais eram enormes.

A descrição da espécie também foi importante para entender melhor como ela se relaciona com outros parentes passados e contemporâneos. Em especial, a espécie Amiskwia sagittiformis, descrita em 1911, foi revisitada. Apesar de apresentar nadadeiras e formato do corpo parecido com os quetognatos, não foram encontrados, a princípio, espinhos preensores, característica essencial para classificação do grupo.

Entretanto, em estudos recentes, os cientistas perceberam que Amiskwia apresenta sim um aparelho bucal desenvolvido, porém interno. Apesar de ainda não ser suficiente para entrar no grupo quetognata, a descoberta sugeriu que este organismo poderia ser convidado a entrar nos Gnathifera, grupo este que, de acordo com o que apontam evidências filogenéticas, pode consistir  um só clado junto com os quetognatos: os Chaetognathifera.

Apesar do reino predatório dos quetognatas ter chegado ao seu inevitável fim, seu legado sobrevive em água e rocha, e a paleontologia nos convida a uma viagem no tempo para conhecer os dias de um império invertebrado. Enquanto estudamos seus comportamentos, particularidades e detalhes, estes animais, grandes ou pequenos, ferozes ou medrosos, mesmo mortos, mantém viva a ciência da vida.




Figuras:


 A imagem apresenta o fóssil que serviu de base para descrição da espécie. Em A, B e C são vistos, respectivamente, estudos da distribuição de carbono, mapa de textura e desenho interpretativo, do espécime inteiro. Em D,E e F, os mesmos estudos foram feitos para o aparelho bucal identificado.
Holotipo do T.koprii - A imagem apresenta o fóssil que serviu de base para descrição da espécie. Em A, B e C são vistos, respectivamente, estudos da distribuição de carbono, mapa de textura e desenho interpretativo, do espécime inteiro. Em D,E e F, os mesmos estudos foram feitos para o aparelho bucal identificado.

Modelo 3d digital de T.koprii - Uma reconstrução digital do organismo e sua anatomia externa e interna

Reconstrução artistica do T.koprii em atividade predatória na coluna d'água

observação: Todas as figuras foram retiradas do artigo de referência [1] e suas legendas foram adaptadas ao português e encurtadas.


Referências:

[1] Park, T.-Y. S., Nielsen, M. L., Parry, L. A., Sørensen, M. V., Lee, M., Kihm, J.-H., Ahn, I., Park, C., de Vivo, G., Smith, M. P., Harper, D. A. T., & Nielsen, A. T. (2024). A giant stem-group chaetognath. Science Advances, 10, eadi6678.

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Chaetognatha acessado em 04/04/2024 às 14:04

[3] https://en.wikipedia.org/wiki/Gnathifera_(clade) acessado em 04/04/2024 às 14:10



Obrigado pela leitura!

-Pedro Marzano

 
 
 

2 Comments


paula.marzano2011
paula.marzano2011
Apr 05, 2024

Adorei! Parabéns!!!

Like

Ayla Oliveira
Ayla Oliveira
Apr 04, 2024

Que fofo!!!!! Ficou incrível, adorei o formato diferente. Acho que vale a pena investir

Like
Post: Blog2 Post
bottom of page