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Onde estão os Gênios?

Foto do escritor: Pedro MarzanoPedro Marzano

Ei! Tudo bem?


Hoje eu gostaria de falar sobre algo que mexeu comigo essa semana. Eu estava passeando pelo youtube e caí em um corte de um podcast com a Dra. Ana Beatriz Silva. Você talvez não a conheça por nome, mas definitivamente já assistiu pelo menos uma das várias participações dela em podcasts pelo Brasil. No vídeo, ela opina sobre uma questão simples: “Onde estão os gênios da nossa época?”.

Queria já deixar claro que respeito muito o trabalho dela. Gosto da postura dela no geral, normalmente super coerente com evidências e o rigor científico (como se eu fosse alguém competente para avaliar, né?). Bom, pelo menos é o que penso com base no que já vi dela até agora. No caso dessa última opinião, entretanto, eu não poderia deixar de discordar violentamente.



O vídeo em questão é este. Gostaria muito que você assistisse antes de ler o que eu penso a respeito.


https://youtube.com/shorts/JXlLQh08vkg?feature=share


Em primeiro lugar: carência de gênios.


Como assim carência? Qual a evidência que, de fato, sugere que há menos “gênios” vivendo entre nós?


Para partir do pressuposto que há, de fato, uma diminuição do número de gênios na população, deveríamos ter solidez no próprio conceito de genial. Se entendermos este como aquele cujo QI supere determinado limite (o que já é problemático por si só), não é possível ignorar a chamada “distribuição normal” da inteligência da população. Ou seja, em determinado grupo, observaria-se uma distribuição em que a maior parte se encontra no centro e as extremidades seriam ocupadas pelas minorias. Neste caso, os gênios e as pessoas com inteligência muito abaixo da média.


Dessa forma, não seria de se esperar que, sendo a proporção de gênios fixa em uma população, a medida que esta cresceria, o número de gênios acompanharia proporcionalmente? Não teríamos então, na verdade, um aumento na quantidade de superdotados?


Esse argumento nem é meu ponto principal. O uso de testes de QI como medida de inteligência já é criticado há bastante tempo e, até onde eu sei, provavelmente caminha para a extinção. Eu só queria tentar mostrar como o próprio conceito de inteligência e, consequentemente, de genialidade, é difícil de formalizar e ainda mais difícil de medir. Assim, conceber o número de gênios se torna uma tarefa praticamente individual, de certa forma, “contando” o que percebemos como digno do título.


É aí que a Dra. Ana erra, na minha opinião. Dizer que não há mais gênios simplesmente porque não vemos pipocando por aí um ou outro exposto em capas de revista com o título de “mente do século” é como dizer que não existem peixes no mar porque você nunca viu nenhum pulando para fora d’água. E (mais uma vez com todo respeito à Dra.) acaba por denunciar certa ignorância a respeito de áreas além de sua expertise. Isso é natural, claro, mas afirmar que não há obras geniais sendo feitas diariamente simplesmente porque você não as conhece chega a ser desrespeitoso com as milhares de pessoas envolvidas em projetos incríveis mundo afora e inevitavelmente passa a impressão “mesquinha” equivalente àqueles que se julgam, mesmo sem domínio nenhum, aptos a opinar a respeito do que bem entenderem.


Afinal de contas então: onde estão os gênios?


Eu discordo muito dela ao dizer que o último grande gênio foi Nikola Tesla.


E Stephen Hawking e as suas descobertas importantíssimas para a evolução de um modelo único que una o que se observa no micro e macrocosmo?


E Emmanuelle Charpentier, descobridora do método CRISPR que permitiu que a humanidade pudesse literalmente editar o código genético de espécimes?


A própria Rosalin Franklin, imprescindível para o desvendar da estrutura do DNA.


Ainda cito aqui uma heroína minha, Suzana Herculano Housel, que, de forma genial, construiu um método de aproximar com precisão o número de neurônios em regiões diferentes do encéfalo de diferentes animais.


Essas pessoas não são geniais?


Esses exemplos ainda nem são suficientes, na minha opinião. Isso porque a natureza da própria ciência mudou. Hoje, um só gênio não é suficiente. A humanidade caminhou tanto que, de fato, talvez a era das grandes mentes tenha acabado. Não porque deixaram de existir, mas porque chegamos a tal ponto que o trabalho em equipe, a discussão acalorada de teorias e dados, tornou-se simplesmente inevitável. Os gigantes nos levaram tão alto que, se não trabalharmos em conjunto, mesmo o mais inteligente perde o chão de vista.


Há, realmente, como argumentar que as centenas de cientistas envolvidos na captura da imagem de um buraco negro não são geniais? Mentes brilhantes que foram capazes de transformar a terra em telescópio e, em conjunto, fotografaram o literalmente invisível.


É possível realmente dizer que aqueles que agora ousam transformar superposições de átomos em elementos eletrônicos para o nosso uso são “mais do mesmo”? Ou, como ela diz, “seguiram o que já foi deixado”?


Eu sinceramente não consigo aceitar isso.


sim gênios entre nós. Eles estão conosco, colaborando para que cada vez subamos mais e mais alto. São gigantes, claro. Mas, perto da imensidão que o universo se tornou, este tamanho nem faz tanta diferença. Felizmente, entretanto, eles parecem estar menos preocupados em serem medidos ou venerados pela altura e mais focados em ajudar a humanidade a crescer.


Obrigado e até mais!


- Pedro Marzano

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