Esperança - Reflexões sobre o resgate do submarino perdido
- Pedro Marzano
- 22 de jun. de 2023
- 3 min de leitura
Eu acompanhei bem de perto toda essa questão do submarino perdido. Eu não vou gastar tempo comentando a respeito do acontecimento em si porque, sinceramente, a este ponto você muito provavelmente está sabendo. Não sou capaz de comentar questões técnicas sobre todo o acontecimento, muito menos levantar questões nas quais a ciência é protagonista. Este texto é apenas uma reflexão, para ser sincero.
Muito provavelmente os passageiros já morreram todos a este ponto. Se o oxigênio realmente estiver acabado, a esperança foi-se junto a ele. No início, eu tinha certeza que a embarcação havia implodido e os passageiros morrido de forma rápida e indolor. Um barulho mais alto e depois silêncio absoluto. Para sempre.
Isso me tranquilizava. Eu preferia que fosse só essa a história. Estranhamente, ao mesmo tempo em que esperançava por um sinal de vida, aguardava ansioso um sinal de morte. Um metal amassado, um tecido boiando, qualquer coisa. Qualquer coisa que indicasse que, de fato, aquelas pessoas só haviam sido esmagadas em frações de segundo pela pressão do oceano.
Não veio.
O que veio foi pior do que eu gostaria.
De meia em meia hora, as batidas nos lembravam de que era possível que eles ainda estivessem lá; vivos. Vivos e pedindo ajuda. Uma ajuda que não fomos capaz de dar.
Há uma história interessante da qual me lembrei enquanto imaginava as pessoas presas naquele submarino. Nem me lembro dos nomes, datas, nem nada do tipo. Mas me lembro que um homem caiu de avião na Amazônia. Durante seus dias lá, manteve um pequeno diário documentando o que passara, desde a morte de seu companheiro de vôo até a ocasião drástica em que se viu obrigado, para tentar matar a sede, misturar parte da água que lhe restava com gasolina do avião e ver se conseguia, ao menos, despistar o que lhe afligia tanto.
Na sua última entrada no diário, sonhava com o retorno para casa. Descrevia o que faria quando chegasse, as festas, almoços e reuniões com aqueles que amava. Mas, em especial, desejava de forma praticamente exigente a fartura de algo único. Algo que, naquele contexto, ultrapassava qualquer uma de suas outras ambições: Sucos.
A detecção de batidas no que poderia ser o casco do submarino me lembrou imediatamente dessa história. Aquelas pessoas não estão apenas presas, estão com frio, fome, medo e sede. Mesmo assim, batem. Batem porque, junto da nossa fisiologia, e provavelmente tão unânime como ela, mora a nossa esperança. Uma esperança que, infelizmente, atualmente é a única coisa que nos liga a eles. Aqui, a nossa em encontrá-los; lá, a deles de nos encontrar.
De meia em meia hora.
De meia em meia hora abrimos nossos ouvidos enquanto eles expandem seus pulmões para gritar por socorro. A esperança de lá prezando para que nós escutemos enquanto a esperança de cá preza para que eles saibam que nós estamos escutando e que aguentem pelo menos mais um pouco.
No fundo, o ser humano é movido a esperança. O homem que escreve, com a pouca energia que lhe resta, sobre sucos em pedaços de papel é o mesmo que, com a mão cheia de tinta, marca as paredes da caverna onde vive. Os dois, tão distantes no tempo e espaço, compartilhando a mesma esperança: a de serem ouvidos. Ouvidos agora ou no futuro, mas, jamais, nunca.
O mar põe em dúvida o que de fato nos move. Ao alcançar as estrelas e visitar o vácuo do espaço, nos sentimos imbatíveis. Somos os primeiros ali. Ao descer ao fundo e visitar os seres residentes, por menores que sejam, vive-se um lembrete poderoso de que, naquele lugar, não somos conquistadores; apenas visitantes.
Obrigado
-Pedro Marzano
Que sensibilidade Pedro!
Parabéns por cada dia mais se tornar esta pessoa linda de sentimentos !
Maravilhoso, meu filho! Fiquei muito emocionada!